30/10/2012
Microcrédito tira raparigas das ruas
A paróquia de Nzinge, na Província do Niassa (Moçambique), na fronteira com o Malawi e a Tanzânia, é uma zona rural e suburbana, estendendo-se dos arredores da cidade de Lichinga, capital da província, ao resto da zona rural do distrito com o mesmo nome. Tem uma superfície de 8.075 km2 e 94.972 habitantes, sendo 41.628 (43,8 por cento) mulheres. Do ponto de vista religioso, 91,2 por cento são muçulmanos, 2,6 por cento católicos, 1,6 por cento protestantes e 4,6 por cento de religião tradicional africana.
A população é multicultural, composta principalmente pelas etnias Makua, Yao, Nyanja e Machangana. A economia baseia-se na agricultura e é praticada manualmente em pequenas associações familiares. O grau de indigência é muito elevado: cerca de 54 por cento da população vive abaixo do limiar da pobreza. As jovens são as mais atingidas: no distrito de Lichinga há 16 mil raparigas (o que equivale a 34 por cento) entre os 20 e os 25 anos que não encontram trabalho.
Por causa da falta de emprego e pela miséria em que vivem, as raparigas emigram para a cidade de Lichinga em busca de trabalho e de melhores condições. Os seus desejos são defraudados e elas acabam por ficar na periferia da cidade que está crescendo de um modo descontrolado. Amontoam-se em barracas, privadas das mais elementares condições de higiene e outros serviços. Não há qualquer serviço de água potável e de energia elétrica. A alimentação é escassa e de baixa qualidade. A falta de vias de comunicação limita o volume das trocas comerciais e assim as esperanças de mudança ficam muito reduzidas.
Consequentemente, pelo mal-estar económico e social, essas jovens tornam-se vítimas predestinadas de abusos e exploração pelos companheiros que se aproveitam da sua miséria, iludindo-as com falsas promessas e pequenas ajudas económicas. Abandonadas pelos companheiros e por todos, sem o mínimo acolhimento, entram no estigma social da prostituição, tornando-se logo a seguir mães solteiras à procura de sustentamento para elas e para os filhos.
Assim estas jovens, ainda na fase produtiva e com potencialidades para o futuro, pelas condições de pobreza e de miséria, são mortificadas na própria dignidade e privadas do indispensável para viver. Como pároco desta comunidade, estou a iniciar um novo projeto de promoção da mulher orientado especialmente para as raparigas mães e para as prostitutas. O projeto tem como objetivo antes de mais a formação (partindo da alfabetização) e o fornecimento de conhecimentos técnicos necessários para as envolver em atividades lucrativas, através do microcrédito, ligando-as sobretudo ao comércio de produtos agrícolas e do peixe proveniente do lago Malawi. Cinco voluntários da paróquia dispõem-se a acompanhar estas mulheres na sua formação através de temas sanitários (prevenção da SIDA, nutrição, higiene), direitos humanos e gestão de pequenas empresas.