29/06/2013
O Microcrédito como estratégia de fortalecimento dos microempreendimentos.
Quando o economista Muhammad Yunus, criou o Grameen Bank (Banco da Aldeia), apoiada por professores e estudantes de economia da Universidade de Chettagong, estava convencido que a fome do povo de Bangladesh não resultava da falta de comida, mas sim, da incapacidade de uma grande parte da população de comprá-la por falta de dinheiro.O acesso facilitado ao crédito produtivo popular, na região mais pobre, sobretudo na zona rural de Bangladesh, possibilitaria a inclusão social das mulheres que ainda sofriam diversos outros preconceitos. O sistema baseado em aval solidário considerava um aporte de dinheiro para desenvolver pequenos negócios, em particular, o de produtores pobres.
Evidentemente que o crédito sozinho não resolve o problema da pobreza. Outros fatores são importantes como o acesso universal à educação de qualidade, saúde, inclusão digital e infraestrutura de apoio. O projeto de Yunus (microcrédito), considera a pobreza como um fenômeno multidimensional, que envolve as seguintes dimensões: política social, tecnológica e psicológica, entendendo esses elementos bastantes interligados. De acordo com Yunus (1997), a teoria econômica convencional, que atribui aos mercados a capacidade de otimizar a utilização dos fatores e satisfazer da melhor maneira possível todos os agentes econômicos era totalmente irrelevante para combater a pobreza. Os microempreendedores, encontram-se em situação de dificuldade, sem acesso ao mercado, ao crédito e capacitação qualificada. Ainda é difícil para um microempreendedor obter pequenas quantias de dinheiro para começar um novo negócio ou expandir um negócio existente. Muitos destes microempreendedores ainda dependem de agiotas locais, tomando empréstimos a juros altíssimos para comprar mercadorias e imobilizar os seus micronegócios. Há uma experiência de sucesso no Brasil, com o Crediamigo do Banco do Nordeste, metodologia baseada na prática da garantia social, do aval solidário, da relação de confiança, reciprocidade e participação solidária. Tem a figura do fiador coletivo, que consiste neste aval solidário, formando grupos de 3 a 5 pessoas avalizando mutuamente. Na realidade, o crédito em si não gera oportunidades, mas viabiliza a realização das oportunidades de negócios existentes, estimulando o empreendedorismo, e quando este crédito funciona de forma eficiente, fortalece os microempreendimentos. Os pequenos negócios, de jovens e mulheres de baixa renda, são os mais afetados pelo sistema financeiro nacional, considerando que estes microempreendedores raramente têm acesso aos créditos públicos facilitados e as isenções que as médias e grandes empresas possuem. Acredito no estudo do prof. Marcelo Nery do centro de políticas sociais do IBRE/FGV, quando ele defende a ampliação do microcrédito no País, e ressalta especificamente o impacto do Crediamigo, o maior programa de crédito popular do Brasil. É preciso que as políticas públicas dos governos locais, estimulem a criação de Bancos do Povo, Bancos da Mulher, Bancos Comunitários, ONGs, OSCIP, para aumentar a oferta de microcrédito ou crédito solidário. Estatísticas da OIT- Organização Internacional do Trabalho, indicou no Brasil, em 2000, 6 milhões de clientes prováveis de microcrédito, com uma demanda de aproximadamente de 11 bilhões de reais. Nesse período, as instituições de microcrédito somente atendiam 115 mil clientes com uma carteira ativa de 85 milhões de reais. Promover o fortalecimento dos microempreendimentos com acesso facilitado ao crédito popular, vai exigir também das instituições de crédito solidário deste País, a aplicação de um modelo de gestão eficiente, adotando os princípios da independência, confiança e autosustentabilidade. Se houve uma melhoria significativa na oferta de microcrédito, os microempreendedores deveriam tomar mais crédito bancário para a abertura de seus pequenos negócios. Uma análise dos resultados destas experiências de microcrédito no País, vai nos mostrar se realmente está acontecendo incremento n renda das famílias, geração de emprego, melhorias na educação gerando a inclusão social. Quais os fatores que os microempreendedores acham que mais dificultam o seu negócio? Qual é a origem do capital empregado para iniciar seu próprio negócio? A elaboração de uma pesquisa vai responder quais fatores impedem o progresso dos microempreendimentos: falta de clientes, falta de capital de giro, muita concorrência, ausência de mão de obra qualificada, ausência de gestão e de planejamento. A eficácia do programa de microcrédito ou crédito solidário, requer um modelo de excelência na estratégia de gestão destas instituições, que certamente irão mitigar o efeito negativo das reclamações dos empreendedores de baixa renda, quanto da falta de oportunidades iguais para todos.
Rosival Fagundes. Analista Sebrae-BA. Prof. universitário. Mestrando em Desenvolvimento e Gestão Social-UFBA. 2013.