O Brasil possui demanda superior a 10 milhões de microempreendedores sem acesso ao crédito, mas que têm oportunidades de investir. Diante deste cenário, a Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred), com sede em Santo André, promove, dias 18 e 19 de setembro, em Brasília, seminário internacional para discutir a autorregulação das organizações que oferecem microcrédito no País.
De acordo com Almir da Costa Pereira, presidente da Abcred e do Banco do Povo, é necessário abordar a necessidade de construir um ambiente propício para desenvolver as microfinanças brasileiras. "Queremos melhorar as condições para que entidades, como o Banco do Povo, possam oferecer mais crédito e oportunidades para a população que, na maioria das vezes, vive por conta própria", afirma Pereira, em entrevista para o RDtv.
Com a criação da lei das Oscips (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), em 1999, as atividades de microcrédito foram legalizadas e alcançaram elevada qualidade na operação do Microcrédito Produtivo Orientado (MPO), na gestão administrativa, financeira e do desempenho social. No entanto, a autorregulação é questão fundamental para elevar a confiança do setor e o acesso a recursos financeiros e não financeiros. "Acreditamos que podemos realizar no Brasil o que é desenvolvido em países, como Peru e Bolívia, que lideram o ranking de microfinanças no mundo", diz o diretor executivo.
No seminário, a Abcred pretende oferecer em audiência pública na Câmara dos Deputados a experiência das entidades junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e três agências de fomento de Santa Catarina, Bahia e Rio Grande do Sul, que em comum apresentam parcerias para o microcrédito. "Vamos fazer um trabalho para melhorar a legislação", aponta Pereira.
Taxa
Também sediado em Santo André, o Banco do Povo, originado na gestão do ex-prefeito Celso Daniel, em 2003, possui atualmente 3,5 mil clientes no ABC e carteira de R$ 4 milhões. No entanto, também enfrenta críticas sobre possuir taxa superior a dos bancos formais, com 3,9% ao mês. O presidente da Abcred explica que a garantia da viabilidade do acesso ao crédito para o microempreendedor faz com que a taxa diminua. "O Banco do Povo e a Abcred têm um público que adota metodologia de crédito de proximidade, em que o gerente e os agentes de crédito são presentes no levantamento sócioeconômico e acompanhamento do negócio e do investimento realizado com o microcrédito", esclarece.
Requisitos
Para o microempreendedor conseguir acesso ao crédito é importante ter, no mínimo, de três a seis meses de experiência com negócios, além de estar disponível para avaliar o tamanho do investimento e seguir orientações de planejamento para que não seja feita uma dívida maior da prevista.
Almir Pereira aponta que a inadimplência está em 0.8% na região, sendo que o banco formal chega a 18%. "É a mais baixa do mercado e o desafio está em emprestar a medida certa para emprestar sempre e incentivar o crescimento do negócio", diz.